Há personagens que carregam um estigma que as impossibilita de chegar mais longe. Podem ser muito bons tecnicamente, dominarem os assuntos da sua área, mas falta-lhes algo que, para comandar pessoas, é fundamental: carisma. O treinador do FCPorto é um belo exemplo desses comandantes que ficam sempre à porta de conseguirem alguma coisa. Não se duvida que percebe de futebol, que tem preparação para o cargo, mas não é suficiente para levar a equipa aos triunfos do passado.
Tem um ar amargo, parece que todos lhe devem e ninguém lhe paga, a sua ligação com os sócios do Porto é quase inexistente ou quando a há é má, e tem ainda o péssimo hábito de se desculpar com os outros quando perde. Estando o clube habituado a vencer – nos últimos 30 anos não deve haver muitas equipas no mundo que tenham ganho tanto – é pouco natural que os adeptos se conformem com tantas derrotas ou ausência de vitórias em provas importantes. Na gíria futebolística diz-se que tem pé frio ou que não consegue motivar o mais risonho dos jogadores.
Envolve-se em polémicas onde sai quase sempre a perder, pois é raçudo, mas entra à queima e acaba por se deixar enrolar. É certo que Pinto da Costa – e Filipe Vieira também – acredita que com ele como presidente qualquer treinador se arrisca a ser campeão. O que não é verdade como se vê. Até pode ser que Julen Lopetegui consiga dar a volta ao texto e chegue à frente do campeonato no final, mas parece-me muito improvável que um homem que tem perdido com os seus rivais mais directos como nenhum outro treinador dos dragões consiga transformar-se e levar o clube às vitórias.
Esta semana foi afastado da Liga dos Campeões quando a duas jornadas do fim ia em primeiro lugar destacado. Numa cidade que gosta de se fundir com o clube e onde os adeptos vivem apaixonadamente o fenómeno da bola, o treinador tem de ser um catalizador de vontades, levando tudo atrás. Qual foi, por exemplo, um dos segredos de José Mourinho quando passou pelo Porto? Precisamente puxar os sócios para o seu lado como se fossem uma seita. É verdade que no final teve problemas, mas ninguém se vira contra o criador sem sofrer as consequências.
Lopetegui até é capaz de ser muito bom a formar jovens jogadores, mas os mais “crescidos” não vão em conversa mole, até porque se acham umas grandes estrelas. E aí é preciso alguém com carisma para os colocar no lugar.